Por que o futuro do trabalho exige mais do que tecnologia

4 de agosto de 2025

Quando falamos sobre o futuro do trabalho, é quase automático pensar em inteligência artificial, automação, plataformas digitais e algoritmos que reconfiguram funções inteiras em questão de meses. Mas, depois de meses mergulhada em relatórios do Fórum Econômico Mundial, Accenture, tendências do SXSW 2025 e análises do mercado brasileiro, percebi que o verdadeiro ponto de inflexão não é tecnológico.


É humano.


Mais precisamente: é sobre dignidade.


Por trás de todas as projeções futuristas — 78 milhões de novos empregos até 2030, aumento exponencial do uso de IA e crescimento do setor de cuidados e sustentabilidade — existe um dado ainda mais inquietante: a desconexão entre pessoas e trabalho.


Segundo a Accenture, o engajamento global dos funcionários caiu de 41% para 34% e a energia cultural despencou de 63% para 55%. Isso, num mundo onde a produtividade é constantemente exaltada, revela uma verdade incômoda: estamos produzindo mais e pertencendo menos.


Essa erosão da vitalidade emocional no trabalho se manifesta de forma silenciosa, mas poderosa. Cresce o número de profissionais que praticam o “acting your wage” — entregar apenas o que o salário cobre, sem energia extra, sem conexão com propósito. Não é preguiça, é sintoma. Sintoma de um modelo que extrai, exige e recompensa apenas performance, enquanto silencia o afeto, a escuta e o vínculo.


E essa crise de pertencimento se intensifica no Brasil. Por um lado, temos um dos maiores índices de adoção de IA do mundo: 96% das empresas brasileiras já utilizam a tecnologia. Por outro, 28% dos empregos são considerados vulneráveis e 21% dos jovens estão fora da escola e do mercado formal. Avançamos em inovação, mas ainda não conseguimos garantir inclusão, mobilidade e bem-estar em escala.


Estamos, na prática, vivendo uma revolução sem contrato social.


As máquinas estão prontas. Mas e as pessoas?


A automação, que já representa 22% das tarefas organizacionais, continuará crescendo. Mas, segundo o WEF, a fronteira mais poderosa é a da colaboração humano-máquina: 30% das tarefas já são compartilhadas entre humanos e tecnologias — e essa proporção deve se equilibrar até 2030. O desafio, portanto, não é substituir pessoas. É prepará-las, respeitá-las e reorientar seu valor no sistema.


Mais do que requalificar, precisamos reconectar.


Com o que fazemos, com quem fazemos e por que fazemos.


Foi esse o ponto central que emergiu no SXSW 2025. Em vez de planos estratégicos de 5 anos, o que vimos foram líderes falando de estratégia como verbo contínuo: iterar, adaptar, imaginar o que ainda não existe. A liderança do futuro trabalho será menos sobre controle e mais sobre criar ambientes férteis para a inteligência coletiva florescer.


Em um mundo onde o custo do conhecimento tende a zero (porque a IA responde quase tudo), nosso valor passa a estar na imaginação, na conexão entre disciplinas e na capacidade de escutar o que ainda não foi dito.


Essa escuta, aliás, precisa incluir todos os ciclos da vida. A economia da longevidade já move trilhões de dólares no mundo. E no Brasil, onde a população 60+ crescerá mais de 40% até 2030, ignorar esse grupo é desperdiçar um oceano de potencial. Não podemos mais tratar o trabalho como linha reta. Carreiras serão feitas de múltiplas fases, recomeços, pausas e reinvenções. Precisamos de políticas que acolham essa fluidez — e que enxerguem profissionais sêniores como ativos, e não passivos.


Diversidade geracional, emocional, funcional e cultural não pode ser um “pilar”. Precisa ser o próprio alicerce das estratégias.


A boa notícia é que muitas empresas estão se movendo. Segundo o WEF, 83% já implementaram ações de diversidade, equidade e inclusão, e 70% estão investindo em requalificação. Mas ainda há muito a ser feito. Liderar com empatia, investir em saúde mental, criar métricas de vitalidade real (e não só “wellness de vitrine”) são caminhos possíveis — e urgentes.


Porque o futuro do trabalho não será apenas digital. Será regenerativo.



Será desenhado não por quem tem mais tecnologia, mas por quem tem mais visão. E visão, aqui, é saber que dignidade é mais do que um valor — é uma estratégia.

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